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País enfrenta surto da doença e instituiu quarentena diante do avanço da contaminação (Foto: Yara Nardi/Reuters)

 

A crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus tem atingido fortemente o setor agrícola na Itália. Em três semanas, o avanço da doença prejudicou os negócios de uma em cada quatro empresas agrícolas italianas, e os produtores rurais já registram uma queda de 41% no faturamento.

A situação é ainda mais grave na fileira do agroturismo, onde as 23 mil estruturas voltadas ao turismo agrícola em todo o país sofreram uma redução de 79% na receita em relação ao mesmo período de 2019. Os dados são da Confederação Nacional dos Empreendedores Agrícolas (Coldiretti).

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“Lorenzo Bazzana, responsável pelo departamento econômico da Coldiretti, afirma que restaurantes, bares, pizzarias e hotéis tem sofrido profundamente com as determinações que limitam a presença em lugares de aglomeração.

"Embora tenhamos registrado um aumento no consumo doméstico, uma vez que as famílias passaram a lotar os supermercados por causa do medo e da preocupação de ficarem sem estoque de comida, esse crescimento não compensou a queda do consumo extradoméstico", diz.

Prejuízo no campo

Proprietário de uma pequena fazenda de 33 hectares em Gaeta, na região do Lácio, centro da Itália, Cosmo Di Russo produz cerca de 10 mil litros de azeite e 50 mil quilos de azeitona de mesa por ano. Mas, nas últimas duas semanas, suas vendas caíram a “praticamente zero”.

“A situação é bastante grave. Nós trabalhamos principalmente com restaurantes e quase todos estão fechando as portas porque não conseguem gestir a necessária distância entre as pessoas”, explica. Com o avanço da epidemia, o governo italiano determinou que bares e restaurantes que continuarem abertos precisam respeitar a distância mínima de um metro entre clientes.

Restaurante fechado em Veneza, na Itália (Foto: Manuel Silvestri/Reuters)

 

Exportações em queda

De acordo com a Coldiretti, a situação é ainda mais grave quando se fala em exportação. Somente as vendas destinadas a China sofreram uma queda de 11,9% desde o início da emergência coronavírus. Em 2019, as exportações dos produtos agroalimentares “made in Italy” para o gigante asiático atingiram a cifra de 460 milhões de euros.

“Neste momento, é impossível fazer uma estimativa precisa da queda das nossas exportações, mas sabemos que este é o setor que mais sofre devido às limitações impostas ao transporte das mercadorias”, afirma Bazzana, acrescentando que muitos países passaram a exiger certificados adicionais que atestem a isenção de coronavírus nos produtos alimentares.

“Isso é absolutamente injustificado. Todos os mais respeitados orgãos internacionais de segurança alimentar afirmam que o coronavírus não pode ser transmitido através desse tipo de produto”, destaca.

Do turismo ao vinho

 

A mesma avaliação é feita por Giovanni Daghetta, presidente da CIA Lombardia (Confederação dos Agricultores Italianos da Lombardia). A região, no extremo norte da Itália, tem cerca de 45 mil empresas agrícolas e foi a primeira e mais afetada, até agora, pela pandemia. 

Os produtores que trabalham com o mercado externo são os mais prejudicados, mas aqui na região existem três produções que estão sofrendo com o cancelamento de pedidos feitos tanto pelo mercado externo quanto interno: agriturismo, vinho e floricultura e vivaismo

Giovanni Daghetta, presidente da Confederação dos Agricultores Italianos da Lombardia

De acordo com o representante da confederação, os cancelamentos atingem 80% das encomendas feitas aos produtores de flores e plantas. No caso do agriturismo e da venda de vinhos, esse percentual chega a 90%. 

“Foi o caso do vinho o que mais nos surpreendeu. Não esperávamos por isso, mas o setor está indo mal. Aqui na zona, temos grandes empresas que fecharam as cantinas e estão paradas. Talvez isso tenha ocorrido porque [o vinho] não é um produto estritamente necessário”, conclui.

Rua vazia no segundo dia de isolamento devido ao coronavírus em Nápoles (Foto: Ciro de Luca/Reuters)

 

Pacote de medidas

Para tentar reduzir o prejuízo de agricultores e empresas, o governo italiano anunciou, no final da primeira semana de março, um pacote de medidas. Segundo o Ministério das Políticas Agrícolas, Alimentares e Florestais italiano, já estão garantidos 350 milhões de euros para o setor.

O valor será destinado principalmente ao financiamento de dívidas bancárias, à concessão de novos empréstimos sem taxa de juros e ao pagamento das reservas canceladas nas propriedades de agroturismo entre janeiro e junho deste ano.

Pessoas usam máscaras protetoras enquanto andam no aeroporto de Malpensa, perto de Milão (Foto: Flavio Lo Scalzo/Reuters)

 

 

Um novo pacote, porém, deverá ser anunciado nas próximas semanas já que a União Europeia autorizou a liberação de 25 bilhões de euros para sanar os problemas decorrentes da emergência coronavírus na Itália. O valor deverá ser distribuído entre os vários setores da economia nacional prejudicados.

Agroalimentar italiano

Em 2019, a fileira agroalimentar foi responsável por 25% do PIB italiano. Somente as exportacões movimentaram um volume de 44,6 bilhões de euros.

Encabeçando o ranking dos produtos mais vendidos para outros países ficaram o vinho, com 6 bilhões de euros em negócios, seguido de hortifruticultura (4,7 bilhões de euros), massas (2,5 bilhões), queijos parmesão e grana padano (1,5 bilhão) e azeite (1,4 bilhão).
Source: Rural

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