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Relatório "Botando ordem no galinheiro" foi elaborado pelo segundo ano consecutivo (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

Um acompanhamento realizado pela ONG Proteção Animal Mundial (World Animal Protection), a partir de informações públicas de nove redes de fast-food com atuação internacional, apontou que nenhuma delas assumiu compromissos globais com o bem-estar de frangos em 2020. Segundo o relatório “Botando ordem no galinheiro”, só a rede KFC, de pratos à base de frango frito, apresentou melhora na avaliação desde a pesquisa do ano passado.

“Nosso objetivo é que não só consumidores e investidores, mas as próprias empresas consigam ver como estão em termos de bem-estar animal comparado a seus concorrentes”, explica Paola Rueda, coordenadora de Animais de Fazenda da Proteção Animal Mundial, frisando que o tema tem ganho visibilidade e servido como fator de decisão para investidores.

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De acordo com o relatório, as redes MC Donald’s, Burger King e Pizza Hut perderam pontos no ranking desde o ano passado por não assumirem compromissos globais com bem-estar animal ou por não reafirmá-los. Entre os critérios avaliados, estão políticas globais, uso de linhagens genéticas com crescimento mais lento, densidade populacional de aves nos sistemas de criação e ambiente onde esses animais se encontram.

(Foto: ONG Proteção Animal Mundial/Reprodução)

 

 

Das marcas mencionadas, a Pizza Hut informou à ONG ter adotado um compromisso com bem-estar de frangos na Europa, o que deve impactar sua pontuação nos próximos relatórios da ONG Proteção Animal Mundial.

A Globo Rural procurou todas as empresas citadas no relatório, mas apenas o Burger King respondeu. De acordo com a empresa, todos os seus parceiros fornecem frangos livres de gaiolas ou sistema multiníveis.

Impacto na carne

O consumidor está entre os principais atingidos pela falta de bem-estar animal em criações de frangos para as redes de fast-food. Paola Rueda destaca que a densidade populacional muito elevada e o estresse ao qual essas aves podem ser submetidas comprometem o sistema imunológico dos animais, exigindo maior uso de antibióticos.

“Em sistemas de criação com maiores níveis de bem-estar, as chances de haver resquícios de antibiótico na carne são muito menores. Em termos de saúde, esse seria um dos efeitos mais importantes”, explica.

(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

Para o produtor, a adoção de melhores formas de manejo também traz benefícios. Além de reduzir os custos com antibióticos, há menores perdas. “Quando a gente coloca na balança a relação entre ter menos animais por metro quadrado e o que o produtor deixa de perder por conta de doenças e mortalidade, isso se contrabalanceia”, ressalta Paola.

O que fazer?

A ONG estima que a adoção de boas práticas, como a redução de 10 para 13 animais por metro quadrado nas criações feitas em galpão e a adoção de genéticas de crescimento em torno de 52 dias (ao invés de 42 dias), geraria um aumento de custo de cerca de R$ 0,30 por ave viva.

Para o consumidor, essa alta seria de apenas R$ 0,25 no preço dos produtos, considerando o valor de um lanche convencional. “Essas mudanças dependem muito mais da disposição do mercado e da informação do consumidor do que de uma questão econômica”, avalia a coordenadora da ONG.

Adaptação no Brasil

Considerando-se a estrutura de produção brasileiras, Paola afirma que há maior flexibilidade de adaptação entre os criadores do Sul, de menor porte e nível tecnológico. Isso porque, entre esses produtores, as galinhas e frangos são dispostos em sistema convencional, com luz natural. “Ele só teria que diminuir um pouco a densidade, de 34 a 33 animais por metro quadrado para 30 animais”, explica.

(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

A maior dificuldade, destaca, seria entre os produtores do Centro-Oeste, onde houve maior investimento em sistemas de dark house, com animais criados em locais fechados e de iluminação artificial. Nesses casos, há maior resistência do setor devido aos altos custos aplicados para construir o sistema produtivo.

“Comparando, o dark house é o sistema em que os animais têm mais baixa de imunidade. Seria o pior em termos de bem-estar. O sistema convencional, de cortina, seria o intermediário”, observa Paola.

Papel do consumidor

O estudo destaca que o principal motor para a mudança nas políticas de bem-estar animal das grandes redes de fast-food está na cobrança do consumidor. “Nos países onde o consumidor é mais exigente e está mais preocupado com o bem-estar animal, o investimento dessas empresas em mudanças é mais rápido”, explica.

No caso do relatório deste ano, os compromissos assumidos pelas empresas analisadas se concentraram na Europa, EUA e Canadá. “Por que essas empresas conseguem fornecer para a Europa com esse nível de bem-estar, mas não conseguem fazer o mesmo para nós, no Brasil?”, questiona a coordenadora da ONG Proteção Animal Mundial.

(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

Na avaliação dela, a maior exigência desses mercados consumidores transcende aspectos socioeconômicos, estando diretamente relacionado ao grau de informação da população local. “Isso ainda falta para o brasileiro. A gente ainda tem muita pouca informação sobre a nossa comida”, avalia Paola.
Source: Rural

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