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Humberto Ríos, especialista em agricultura, genética e melhoramento de plantas, durante evento em São Paulo (Foto: Felipe Rau)

 

A relação entre as condições climáticas e a aplicação de agrotóxicos nas lavouras em regiões tropicais foi um dos temas debatidos no primeiro dia do seminário "Fruto: Diálogos do Alimento", nesta sexta-feira (24/1), em São Paulo (SP).

Especialista em agricultura, genética e melhoramento de plantas, o cientista cubano Humberto Ríos falou à Globo Rural sobre a necessidade de se repensar o modelo de produção agrícola brasileiro a fim de diminuir o uso de agrotóxico nas lavouras.

Ele explica que clima e agrotóxicos estão diretamente relacionados, mas o que justifica essa relação é a prática do monocultivo e não necessariamente a configuração de clima tropical. “Todo o sistema alimentar está concebido para transportar a mercadoria de um lugar ao outro do mundo. Acredito que a solução esteja em modelos mais localizados, que tributem mais a uma economia local”, explica Ríos, vencedor do Prêmio Goldman de Meio Ambiente, considerado o Nobel Ambiental.

Produtores rurais são vítimas de um modelo de agricultura industrial

Humberto Ríos, pesquisador

Para ele, a produção e a economia locais são viáveis, mas é preciso que se mude a mentalidade tanto de produtores quanto de consumidores e intermediários. “Produtores rurais são vítimas de um modelo de agricultura industrial”, diz Ríos.

Esse também é o pensamento de Larissa Bombardi, geógrafa doutora pela Universidade de São Paulo com pós-doutorado na Escócia. “A gente tem um problema estrutural na sociedade. Esse modelo de agricultura [em larga escala] que a gente escolheu não está exatamente voltado à produção de alimentos”, enfatiza.

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Autora do “Atlas: Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, Larissa acredita que o uso de agrotóxico só se faz necessário porque a agricultura baseada no sistema de monocultura prioriza commodities e passa a enxergar ervas daninhas e insetos como pragas, diferentemente do modelo agroecológico.

“Essa perspectiva de erva daninha e inseto como praga vai aparecer numa agricultura homogênea, de monocultura, porque o clima tropical é biodiverso. Então, quando você impõe à natureza uma organização estranha a ela própria, como a monocultura é estranha à organização do trópico, é evidente que a gente vai ter as chamadas pragas”, diz Bombardi.

Larissa Bombardi, geógrafa doutora pela Universidade de São Paulo com pós-doutorado na Escócia (Foto: Leandro Martins)

 

Ela observa que, para o produtor rural, a mudança na forma de produção possa ter algum impacto. “É claro que, para o produtor, isso pode vir a ser um problema. Talvez ele tenha que pensar em outras soluções, setores econômicos ou em diversificar a produção, inclusive com nichos de mercado”, pondera.

Ainda assim, Larissa defende que o mais importante é pensar na riqueza da biodiversidade e em valores nutricionais. “Quanto à commodity, a gente está falando de lucro, de negociar uma safra no mercado que ainda nem foi plantada. Não estamos olhando que, a cada dia, 15 pessoas morrem de fome no Brasil”, conclui a doutora.

 

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Source: Rural

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