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Presidente Jair Bolsonaro já desembarcou na Índia para missão oficial do governo (Foto: Alan Santos/PR/Divulgação)

 

Um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, a Índia é hoje um forte competidor do Brasil no mercado internacional. Mesmo assim, o país foi escolhido como primeiro destino de 2020 na agenda de visitas oficiais do governo brasileiro.

Neste sábado (25/1), o presidente Jair Bolsonaro vai se encontrar com o primeiro-ministro, Narendra Modi, e com o presidente indiano, Ram Nath Kovind, para discutir e assinar uma série de acordos bilaterais. E o agro é peça-chave na pauta.

 

Dentre os potenciais de negócio, há cinco oportunidades em destaque: açúcar, etanol, soja, proteína animal e feijão. A seguir, Globo Rural mostra as expectativas de cada setor para a as reuniões previstas para os próximos dias.

Açúcar

 

Entre os setores do agronegócio com maior interesse nesses tratados está o sucroalcooleiro. No último ano, os indianos superaram o Brasil como maior produtor mundial de açúcar, em grande parte devido a uma agressiva política de subsídios aos cerca de 50 milhões produtores locais.  Com duas safras consecutivas acima de 30 milhões de toneladas produzidas, a Índia acumula estoques e pressiona as cotações da commodity no mercado internacional.

“Essa questão do subsídio se tornou um problema de difícil solução para o governo indiano. São 200 milhões de pessoas ligadas ao setor. É difícil tirar isso do dia para noite sem fazer toda essa população passar fome”, explica Eduardo José Sai, trader da Sucden Financial. Segundo ele, a visita é uma forma diplomática de ajudar a Índia a encontrar alternativas para reduzir seus estoques do adoçante sem prejudicar milhares de famílias que dependem do setor.

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Etanol

 

Integrante da comitiva que acompanha o presidente Bolsonaro, Eduardo Leão, diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), reconhece que o objetivo da missão, para o setor de cana-de-açúcar, não visa negócios imediatos. “A expectativa é que a gente possa gerar os incentivos necessários para que o Brasil possa colaborar com esse programa de etanol indiano”, explica.

Otimista com os acordos, o diretor da Unica destaca que a política de subsídios tem gerado um alto custo para o governo da índia, que tem total interesse em ampliar sua produção de etanol. O país já aprovou a mistura de 10% do biocombustível à gasolina e permitiu sua produção a partir do caldo da cana no lugar do melaço, subproduto da fabricação do açúcar.

Estamos falando de um jogo de ganha-ganha. Vão ganhar os indianos e ganha a própria indústria global de açúcar, na medida que você oferece a possibilidade de maior equilíbrio na produção por meio do etanol

Eduardo Leão, diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica)

 

 

 

 

 

Soja

 

Principal produto de exportação agrícola do Brasil para a Índia, a soja também deve ser contemplada no documento assinado pelos dois países. “Acredito que haverá um acordo com a Índia. Até porque, depois do acordo firmado entre EUA e China, a gente precisa desses mercados”, observa Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), ao lembrar da elevada dependência que o setor tem em relação à China – o país respondeu por 63,3% das exportações do Complexo Soja em 2019.

Mesmo a gente seguindo firme na comercialização com a China, é interessante ter outros mercados. E a Índia tem demonstrado interesse pelos nossos grãos

Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Aprosoja Brasil

 

 

Com a Índia representando a segunda maior população do mundo, ele estima que o Brasil tenha potencial de exportar até 15 milhões de toneladas de soja para o país ante cerca de 412 mil toneladas vendidas no ano passado.

Como exemplo, Pereira menciona os resultados da última missão do Brasil no Japão, O país importou quase 7 milhões de toneladas de milho brasileiro no ano passado, volume 28 vezes superior ao registrado em 2018.

Proteína animal

No setor de proteína animal, as perspectivas também são de avanços nas relações comerciais entre Brasil e Índia. Devido à religião hindu, o país asiático é um destino importante para o setor de aves, que hoje enfrenta elevadas tarifas de importação.

Para o frango em corte, as taxas chegam a 100%, caindo para 30% no caso do animal inteiro e 27% para suínos. Diante dessas condições, o Brasil exportou para a Índia apenas 33 toneladas de frango no último ano, o que representa pouco mais de um contêiner.

Pedimos que o governo tente, no âmbito do BRICS, baixar essas tarifas porque isso vai facilitar muito a possibilidade de comércio com os indianos

Ricardo Santin, diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)

A entidade realizou um seminário no último dia 23, apresentando o modelo produtivo brasileiro a empresários indianos, com ênfase no status sanitário e na sustentabilidade da produção no país. Santin, que participa da comitiva brasileira na Índia, ressalta que a missão também trabalha para obter melhorias no sistema de emissão de licenças de exportação indiano e contatar empresas interessadas em adquirir o produto brasileiro.

“Claro que ele é muito mais efetivo se houver redução de tarifas, mas, mesmo sem isso, é possível fazer negócios dependendo do tipo de produto e onde vai ser aplicado. Esses tipos de parceria que vão se desenvolvendo precisam da presença de empresários conversando face a face”, ressalta o diretor-executivo da ABPA.

Feijão

 

Em menor volume, mas não menos importante, o feijão é outro setor agrícola fortemente interessado na missão brasileira na Índia. O país é o maior importador mundial da leguminosa, respondendo por mais de 65% das exportações brasileiras de feijão fradinho em 2019, quando o Brasil enviou 43 toneladas ao mercado internacional.

De acordo com Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), o maior desafio brasileiro para aumentar sua participação nas importações indianas, em atuais 3,31%, é a falta de previsibilidade nas relações comerciais com o país.

Comitiva de Bolsonaro tem compromissos no país até a próxima segunda-feira (Foto: Clauber Cleber Caetano/PR/Divulgação)

 

“Seria interessante buscarmos o mesmo tratamento que eles tiveram no passado recente com alguns países, em que se comprometeram a importar um determinado volume anual”, explica Lüders. Entre a principal variedade consumida pelos indianos, está o feijão guandu. Foram 461,5 toneladas importadas em 2018. O país, contudo, é o único do mundo a consumir o produto.

“Se produzirmos um volume para exportação, só teremos o mercado indiano. Não existe nenhum outro mercado importante para enviar esse feijão”, observa o presidente do Ibrafe, avaliando que, caso avancem os acordos bilaterais, o Brasil terá condições de chegar a 5% de participação nas importações indianas de feijão em cinco anos.

Se tivermos um compromisso formal de volume de certas variedades, isso vai alavancar nossas exportações, atendendo tanto a nossa necessidade quanto a deles

Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe)

 
Source: Rural

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