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Blockchain pode ser usado na agricultura para realizar desde operações comerciais até no combate ao desperdício (Foto: )

 

Em 2013, o sul-africano Johann Gevers e o dinamarquês Niklas Nikolasen identificaram o município de Zug – uma microrregião com menos de 25 mil habitantes na Suíça – como o local ideal para criar uma espécie de Vale do Silício da criptografia e do blockchain. A cidade não foi escolhida ao acaso e, sim, por ser uma região neutra e segura, com índices anuais de criminalidades baixos. Para ter uma ideia da importância de Zug atualmente, cerca de 200 empresas estão instaladas na região.

Mas, afinal, o que o blockchain e a criptomoeda transformaram não apenas Zug, mas toda a ordem econômica mundial? Ao redor do mundo, estamos constantemente transferindo valores. Esses valores podem ser informações, serviços e a até mesmo alimentos, seja para produção de capital ou própria sobrevivência. Durante essa troca, normalmente as instituições – ligadas ao governo – fiscalizam essas operações e anotam as transações de forma manual, em poucos casos sendo vulneráveis a fraude.

O blockchain fornece os meios perfeitos para capturar dados nas cadeias de produção. Cada etapa do processo produz dados, que são coletados, armazenados em locais seguros, que então representa uma cadeia de custódia à prova de violações, protegendo os valores.

A tecnologia pode evitar, inclusive, o desperdício de alimentos, que, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), chega a um terço do total no mundo inteiro. De acordo ainda com a FAO, estima-se que um pouco mais de 12% da população global tenha se alimentado com algum produto contaminado ao longo do ano.

O combate ao desperdício por meio do blockchain começa no campo, ao monitorar quanto tempo um animal fica no pasto, como as condições climáticas interferem na produção e aponta até contaminação por meio de doenças e pestes, como a que atingiu a China neste ano. Além da etapa inicial do ciclo produtivo, o cliente final – aquele que compra a carne – consegue até mesmo saber onde o produto esteve armazenado e como foi transportado até chegar até ele.

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A FAO publicou, no começo de 2019, um artigo sobre a importância de usar o blockchain. O texto defende o uso principalmente para o combate a doenças e pestes, que somente nos EUA causou prejuízo de US$ 55 bilhões em anos anteriores. Também são apresentados dados da consultoria PWC referente às fraudes no setor, que contabilizou US$ 40 bilhões por ano, o que pode ser evitado com o blockchain.

Essas fraudes, que podem impactar na contaminação dos alimentos, causam prejuízos entre US$ 50 e US$ 60 milhões nas vendas e até reputação das empresas. Ao menos uma vez por ano, 56% das companhias de alimentos precisam fazer recall de seus produtos. Pesquisas recentes com as novas gerações de consumidores, apontam que 86% deles pagam mais por consumir produtos mais transparentes relacionados à produção.

Com o trabalho dos precursores Gevers e Nikolasen, acesso à internet, computação em nuvem e o custo cada vez mais acessível da Internet das Coisas (IoT), outras inúmeras entidades e empresas passaram a trabalhar focados nessa nova tecnologia.

Para o Brasil, onde boa parte da economia é baseada na agricultura, a tecnologia é um passo a mais para a garantia de um melhor produto. O blockchain possibilitará ao produtor fidelizar o mercado e potencializar a eficiência em todos os elos da cadeia de produção. Vamos deixar de produzir apenas carne, para gerar dados e é essa mudança de paradigma no modelo de negócio que irá garantir a guinada que precisamos.

*Head da unidade de negócios Factory Automation e Alimentos e Bebidas da Siemens

**As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não refletem necessariamente o posicionamento editorial de Globo Rural.
Source: Rural

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