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Novo Progresso foi um dos municípios onde houve maior número de focos de incêndios na Amazônia. (Foto: Emiliano Capozoli/Ed.Globo)

 

O site da revista Globo Rural teve acesso a duas mensagens de áudios que circulam no Sudoeste do Pará, atribuídas ao ex-prefeito de Novo Progresso, Neri Prazeres. Nestes áudios, Prazeres alerta pelo WhatsApp uma pessoa identificada como Ricardo (que seria o empresário e pecuarista Ricardo De Nadai) sobre as consequências do avanço do desmatamento na região.

As mensagens teriam sido gravadas em 8 de agosto passado, dois dias antes do Dia do Fogo. No dia 10 de agosto, um grupo formado por grileiros, garimpeiros, comerciantes e fazendeiros, convocado pelo WhatsApp, teria provocado várias queimadas pelas florestas de Novo Progresso e Altamira. O crime, que vem sendo chamado de Dia do Fogo, está sendo investigado pelas Polícias Federal e Civil.

No áudio, Prazeres diz que o desmatamento vai ser o maior da história. “Bom dia Ricardo! Eu tô bastante preocupado com o que está vindo por aí. Olha. O desmatamento aí na região, naquela região de São Félix do Xingu ali, divisa…próximo a Progresso e no Progresso, vai ser maior…diz que tá tendo o maior desmatamento da história.”

Ricardo De Nadai, dono da Agropecuária Sertão, é uma das pessoas que está sendo ouvidas pela Polícia sobre o Dia do Fogo. De Nadai seria o criador do Grupo Sertão, que teria mobilizado 70 pessoas para participar dos incêndios.

Neri Prazeres é uma das lideranças de maior peso dentro do agronegócio no Sudoeste do Pará. Ocupa atualmente o cargo de diretor executivo do Consórcio Tapajós, cujo objetivo principal é trabalhar pela regularização fundiária dos municípios da região, principalmente Novo Progresso e Itaituba.

Assassinato

Pesa contra o ex-prefeito de Novo Progresso graves acusações. Em um vídeo, o ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf), Aluísio Sampaio, também conhecido como Alenquer, dias antes de ser assassinado a tiros em Castelo dos Sonhos, acusou Neri de estar planejando a sua morte. Alenquer foi morto no dia 11 outubro de 2018, em Altamira. De acordo com a polícia, a vítima foi morta com vários tiros na cabeça próximo à BR-163. A Polícia Civil informou que uma pessoa foi presa em flagrante pelo crime.

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Aluísio era ligado ao movimento de posseiros. Em 2017, o ativista já tinha recebido ameaças de morte, devido à disputa com grileiros da região. De acordo com o Movimento Rural dos Trabalhadores Sem Terra (MST), apesar de Aluísio ser considerado uma liderança dentro do movimento rural, ele nunca foi vinculado à entidade.

Dias depois um dos suspeitos de envolvimento na morte do líder sindicalista, foi assassinado durante troca de tiros com policiais militares, em Castelo dos Sonhos, distrito de Altamira, sudeste do estado.Na época, Neri Prazeres negou o crime e divulgou nota dizendo que “este camarada chamado de Alenquer é uma figura conhecida na região por grilagem.

Clique aqui e ouça o primeiro áudio. Abaixo a transcrição:

– Bom dia, Ricardo! Deixa eu te falar, cara. Eu tô bastante preocupado com o que está vindo por aí. Olha. O desmatamento aí na região, naquela região de São Félix do Xingu ali, divisa…próximo a Progresso e no Progresso, vai ter maior…diz que tá tendo o maior desmatamento da história. Sabe? Isso vai dar uma repercussão! Só pra você ter uma ideia, eu tô precisando comprar uns "óleo queimado" pra aqui no sítio que eu tenho aqui, tão tirando umas madeira pra fazer um curral. Aqui em Itaituba já tem uma semana que eu tô tentando juntar 40 litros de óleo queimado, não tem porque tudo vai pro Progresso pras derrubada, cara. E eu tô vendo a partir desses dias, que isso vai dar uma repercussão tão negativa! Eu tô preocupado. Eu tô preocupado que, sinceramente, nós vamos acabar tendo um boicote, alguma coisa com nossos grãos, com nossa produção. Tô preocupado, sinceramente. Aqui no consórcio nós discutimos isso. Todo mundo. Inclusive os investidores de Mato Grosso tão muito preocupados com isso, produtores de grãos, com o desmatamento desordenado que está tendo esse ano, cara!

Clique aqui e ouça o segundo áudio. Abaixo a transcrição.

Sabe o que é preocupante? Que eu acho que…que nem, por exemplo, as pessoas ficam fascinadas pelo que o Bolsonaro fala. Sabe? Assim. Eu vejo assim. É. Fala o que a gente que ouvir. Só que você pode pensar, mas não pode ficar falando. Ele fala, as pessoas, as pessoas acham interessante, aplaudem. Ele fala pra plateia. Aquilo que ele falou pra Alemanha, aquilo lá, bicho, vai ser um tiro no pé. Que era pra eles…não precisava do dinheiro deles, aqueles rolo, lá, né? Agora, já tem assim uma grande força de sanção contra o Brasil, de sanção econômica contra os produtos brasileiros por causa de desmatamento, sabe? E eu tô vendo, esse ano, aí, na região de São Félix do Xingu, Novo Progresso, Altamira, até na Floresta do Jamanxim, lá pro lado do Castelo, mas, rapaz, um mundo velho sendo desmatado. Isso vai dar uma repercussão tão desgraçada pra cima de nóis! Eu tive com o Pagot e eles tão extremamente preocupado porque já tem ameaça de países, de não comprar grãos do Brasil enquanto não, enquanto não diminuir desmatamento. E não é o que tá acontecendo. Então, tá todo mundo, assim, preocupado. Ele tava me dizendo que, cara, a preocupação…até a Ferrogrão já tamo, assim, repensando, porque a repercussão vai ser muito desgraçada desse povo aí, dos países, aí, compradores de grãos. Cara! Aí é complicado, ó!

Procurado por diversas vezes ao longo desta segunda-feira (9/9), o Consórcio Tapajós não atendeu às ligações da reportagem.
Source: Rural

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