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Da esquerda para a direita, Maqueson Silva (Marchetaria do Acre), Maria José Luz (Ekilibre Amazônia), Danniel Pereira (Biozer) e o gerente de inovação do Sebrae Nacional, Paulo Renato Macedo Cabral, durante evento, em São Paulo (Foto: Editora Globo)

 

O Sebrae está desenvolvendo um projeto de incentivo aos chamados bionegócios na Amazônia. A ideia é atrair empreendedores das demais regiões do Brasil e de outros países para investir em negócios que tenham como princípio a geração de renda para as comunidades que vivem na região e a preservação da Floresta Amazônica.

O gerente da Unidade de Inovação do Sebrae Nacional, Paulo Renato Macedo Cabral, apresentou o projeto durante a Conferência Ethos 360º, realizada pelo Instituto Ethos, em São Paulo (SP). Explicou que a iniciativa é articulada em conjunto com as divisões do Sebrae nos Estados que compõem o bioma amazônico.

Na visão da entidade, uma das principais razões para fortalecer os chamados bionegócios é destacar a importância da preservação ambiental para a geração de empregos e renda. Esse tipo de empreendimento também proporciona a criação de novos modelos de negócios, combate a exploração descontrolada de recursos florestais, promove o ecossistema e regional e o desenvolvimento econômico.

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Cabral explicou ainda que a intenção do projeto é aliar o empreendedorismo de quem vem de fora ao conhecimento tradicional da Amazônia, gerando riqueza para a região. “Queremos multiplicar esses produtos que são da biodiversidade, formar mais empreendedores para ter um grande ecossistema de bionegócios. É uma das regiões mais ricas do país, se não for do planeta”, disse ele.

Segundo o executivo do Sebrae, o projeto vem sendo discutido com instituições privadas e com o governo, especialmente os Ministérios da Economia e do Meio Ambiente. Ainda não há um orçamento definido para a execução da iniciativa. Está sendo avaliada a ideia de se desenvolver um mecanismo de cotas de participação.

As fases

O projeto é dividido em seis etapas, de acordo com o Sebrae. A divulgação para os empreendedores é a primeira e deve ser feita através de uma plataforma em várias línguas na internet. A fase seguinte é a inscrição dos interessados, nas unidades estaduais da instituição. Depois serão feitas a avaliação das propostas, a capacitação e aceleração das empresas, o compartilhamento dos resultados e a consolidação dos negócios.

“Queremos em janeiro fazer o programa estar operacional. Nossa meta é receber pelo menos duas mil inscrições do mundo todo. E levar pelo menos 150 novos times de empreendedores para a Amazônia”, afirmou Cabral.

Ele explicou que o apoio aos bionegócios pode ser feito de duas formas. Uma é suporte financeiro, com investimentos diretos. Outra é suporte técnico, com consultorias para certificação ou auxílio para acesso a mercados, por exemplo. A depender dos resultados na região amazônica, iniciativas semelhantes pode ser feitas em outros biomas.

Desafios da bioeconomia

O projeto do Sebrae foi apresentado durante painel que discutia a importância da bioeconomia para a preservação da Amazônia, com participação de empresários da região. Era consenso de que a floresta em pé e a biodiversidade que ela oferece podem ser usadas de forma sustentável, gerando renda também para as comunidades locais.

Mas há desafios a serem superados. Entre os mencionados, estão logística, burocracia de certificação de produtos, estabelecimento de sistemas eficientes de rastreabilidade e a presença de intermediários na cadeia produtiva, muito baseada no extrativismo.

Danniel Pinheiro, da indústria de cosméticos e fitoterápicos Biozer, empresa fundada por seu pai, disse que faz parte da política comercial evitar os atravessadores. Segundo ele, a matéria-prima representa cerca de 45% do custo. A opção é comprar direto de cooperativas.

“Tirar o atravessador do meio do caminho, colocar valor agregado ao produto, ter plataformas de venda direta. São essas as alternativas em que estamos trabalhando para otimizar o processo de fornecimento da matéria-prima”, disse ele.

Outro desafio, segundo ele, é aproximar mais a pesquisa e o mercado, para mais produtos criados nos laboratórios das instituições de pesquisa chegarem aos consumidores. Ele deu o exemplo da sua própria empresa, sediada em Manaus, capital do Amazonas, que está há 12 anos no mercado, mas passou oito na fase de pesquisa e desenvolvimento.

“Transformar em negócio não foi muito simples porque tem a visão do pesquisador, que entende que o produto está pronto para ir ao mercado e a do empreendedor, que vê a coisa como um negócio. Falta uma aproximação maior da academia com o setor privado para as pesquisas sejam direcionadas ao produto final”, explicou.

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Sócia da Ekilibre, outra empresa de cosméticos naturais, com sede em Alter do Chão, distrito de Santarém (PA), Maria José Luz destacou a necessidade de conscientização também dos empresários locais sobre valor dos produtos da Amazônia. Uma alternativa tem sido fazer campanhas, por exemplo, em salões de cabeleireiro.

Ela destacou ainda o custo de certificação de produtos, alto especialmente para uma micro ou pequena empresa. E informou que também tem privilegiado as compras diretas dos fornecedores, exceção feita a períodos específicos de baixa disponibilidade.

“A logística e a rastreabilidade são complexas e o custo é alto para certificar como orgânico. Mas estamos superando essas questões”, comentou. “Temos mapeados os locais que nos abastecem e compramos deles, a não ser em caso de algum produto de época. Uma dificuldade para o pequeno empreendedor é essa”, acrescentou.

Fabricante de peças utilitárias e arte baseada em marchetaria, Maqueson da Silva, CEO da Marchetaria do Acre, vende produtos no Brasil e no exterior. Todo o trabalho de arte com a madeira é manual e artesanal. Nascido na floresta amazônica e ex-seringueiro, ele contou que, de início, teve problemas com as remessas de produtos, o que solucionou com parcerias. E que também teve dificuldades com a burocracia.

“Tem a questão da certificação, quando se trabalha com madeira. Uma vez, fiz um reflorestamento e fui multado porque estava plantando árvores”, contou. “Como encontrar o dinheiro na Amazônia? Olhando para a floresta, sem derrubar. Apenas olhando para o que eu posso retirar como meio de inspiração”, acrescentou.
Source: Rural

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