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(Foto: Niels Andreas/Ed. Globo)

 

Começou agora o evento Novos Desafios da Safra, da revista Globo Rural, em São Paulo. No primeiro painel, o ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Rubens Barbosa, e Welber Barral, conselheiro da Câmara de Comércio Americana, sobre o novo cenário econômico mundial e os acordos de livre-comércio concluídos com a União Europeia e o Efta (bloco formado pela Noruega, Suíça, Liechtenstein e Islândia).

A economista Emily Rees, ex-adida comercial da França no Brasil e fundadora da consultoria Trade Strategies, sediada em Bruxelas, na Bélgica, deu um depoimento em vídeo, sobre as vantagens do acordo com a União Europeia para o agronegócio.

Em seguida, Barbosa explicou os diferentes estágios da negociação do acordo. “O tratado marcou o fim do isolamento do Mercosul”, disse. Ele lembrou que o acordo vai ser traduzido para todos os idiomas do Mercosul e da Europa no ano que vem. “Só depois disso será ratificado”, afirmou. O Parlamento Europeu precisará decidir se o acordo entrará em vigor imediatamente depois da ratificação. “Agora, alguns países europeus estão pedindo uma revisão do acordo, principalmente no que se refere ao capítulo sobre sustentabilidade”, disse.

Barral disse que o ponto mais sensível do acordo era a área agrícola. “A França e a Irlanda são alguns dos países com a agricultura protegida”, disse. “O Mercosul cedeu bastante em vários aspectos da negociação”, afirmou. Segundo Barral, vários setores, como etanol e açúcar não haverá uma liberalização completa, mas sim um aumento de contas.

Os lácteos europeus chegarão mais facilmente ao Brasil, quando o acordo for ratificado, lembrou Welber. “Cada vaca na Europa recebe um subsídio de 2 euros por dia”, disse. “É melhor ser vaca do que ser humano em muito lugar do mundo”, brincou.

Segundo Barral, o setor lácteo terá que se preparar para essa nova concorrência. A entrada de produtos do setor agropecuário ainda deverá demorar a se concretizar, assim como de todos os outros segmentos incluídos no tratado. “O acordo deverá ser ratificado daqui a quatro anos”, afirmou.

Durante o debate, mediado por Bruno Blecher, diretor de redação da revista Globo Rural, também foi discutido o tema do possível interesse dos Estados Unidos em estabelecer um acordo comercial com o Mercosul. “Dificilmente o Mercosul negociaria um tratado dessa natureza com os americanos”, afirmou. “Os acordos dos Estados Unidos são baseados no Nafta. A aproximação com o governo americano pode facilitar, isso sim, a simplificação de regras de comércio e eliminar a burocracia, o que é muito bom”, explicou. Mas é preciso aumentar a produtividade no Brasil para fazer frente a nova concorrência, com produtos europeus e outros países.

O ex-embaixador Rubens Barbosa disse que as empresas precisam recuperar a competitividade para se inserir no ambiente de negócios global. “Precisamos fazer a lição de casa aqui no Brasil”, afirmou. “Temos que nos modernizar para ter de fato acesso aos mercados”, disse.

Outro aspecto do comércio internacional que foi debatido no evento foi a guerra tarifária entre a China e os Estados Unidos. “Os Estados Unidos esperavam que essa disputa obrigasse a China a negociar”, disse. “A violação pela China de propriedade industrial representa outro ponto importante, mas os chineses se recusam a ceder a essa e outras exigências americanas”.

O Brasil se beneficia dessa guerra comercial? “Não houve tanto efeito assim em vários setores, como o de carnes, que precisa de um tempo longo de certificação”, disse. “A eventual redução de importação da China está sendo substituída por fornecedores do México e de outros países asiáticos”, afirmou.

Ele também lembrou que há uma expectativa de decréscimo no crescimento econômico mundial, em grande parte em função da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. “Essa disputa gera um custo para a produção no mundo inteiro e prejudica principalmente os países emergentes”.

Os palestrantes também comentaram a importância do papel do embaixador brasileiro nos Estados Unidos. “Para fazer um bom trabalho, precisa ter contatos, tanto no ambiente de negócio como na seara política, e brigar por espaço”, disse Barbosa. “Tem 200 embaixadas no Washington”, afirmou. É preciso também ter um trânsito fluido no Congresso e junto a todos os partidos políticos, lembrou o ex-embaixador.

Outra questão levantada foi a balança de exportação brasileira, fortemente baseada em commodities. “A Alemanha não tem nenhum pé de café e é um dos maiores exportadores mundiais de café”, disse Barral. Os principais motivos seriam o chamado custo Brasil, com a precária infraestrutura de transportes, e o altos impostos. “Além disso, não conseguimos comunicar uma boa mais positiva do país, daquele brasileiro ‘cool’, da bossa nova”, afirmou.
Source: Rural

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