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(Foto: Marcelo Curia/Ed. Globo)

 

 

Desde a abertura da 42ª Expointer no sábado (24), milhares de visitantes lotam os 7,6 mil m² do Pavilhão da Agricultura Familiar para degustar e levar para casa queijos, café, vinho, cachaça, torresmo, embutidos, rapadura, melaço, pães, mel, chips de batata doce, açaí e muitos outros produtos. Neste ano, a participação de produtores é recorde, com 316. E não são apenas gaúchos. Estão no espaço sete agroindústrias familiares de Minas Gerais, cinco do Rio de Janeiro e uma do Amapá.

Jocemir Santa Catarina, de Constantino (RS) trouxe para a feira 300 kg de salame, 100 kg de torresmo, 100 kg de copa e mais 500 kg de outros embutidos produzidos na agroindústria em Pontão, município que fica a 260 km de Porto Alegre. A fábrica é administrada pela Cooptar, cooperativa formada por 20 famílias de assentados da fazenda Annoni, símbolo de luta dos sem-terra no Estado.   

Os irmãos de Jocemir, Valdecir e Dilvo, estavam na ocupação pelo MST da fazenda há 34 anos. “Eu ainda era criança na época, mas meus irmãos mais velhos ficaram em barracas de lona por muitos anos antes de conquistar um pedaço de terra.”

O objetivo da Cooptar na Expointer é divulgar seus produtos, que já são vendidos em toda a região noroeste do Estado. Ao final do primeiro dia da feira, Jocemir disse que a expectativa já era muito boa porque tinha vendido 25% a mais do que no primeiro sábado de 2018.

Inspirado na paixão do avô, o jovem Tiago Guilherme Flach, formado em administração, se juntou ao primo Wilson Schneider para criar a agroindústria de cachaça Wille, em Poço das Antas (RS). O avô Wille plantava cana e destilava a cachaça em alambique de terceiros.

“Decidimos produzir nossa própria bebida artesanal com os 5 hectares de cana cultivados pela família.” Por ano, saem da agroindústria 20 mil litros de cachaça. Na vitrine da Expointer pela segunda vez, Tiago espera divulgar seu produto e superar a venda do ano passado de 3 mil garrafas.

A história de Vilson Teixeira com o mel que ele expõe começou há mais de 30 anos. “Era recém-casado e minha mulher Ironildes queria presente de Natal, mas eu não tinha dinheiro para comprar. Peguei, então, 30 kg de mel de cinco colmeias na chácara do meu pai e fui vender na cidade. Deu para comprar muitos presentes.”

Ele passou, então a investir na atividade de apicultor. A instalação da agroindústria deu o impulso para o casal, que produz de 3.000 a 5.000 kg de mel por ano no município gaúcho de Sertão. “Já levei muita ferroada, mas faço o que gosto e temos boa renda.” Ele espera vender na feira 500 kg de mel e própolis, além de 60 frascos de pólen, que ele chama de “viagra natural”.

Chips

 

 

Vindo de Santa Clara do Sul (RS), Flávio Antonio Franz é o único agricultor familiar a vender chips de batata doce e de aipim e o que ele chama de “pistex” de batata doce e aipim na Expointer. Pioneiro na técnica da fritura desses vegetais, ele conta que demorou três anos para desenvolver o produto e os equipamentos para a agroindústria que leva seu sobrenome.

“O produto é natural, sem glúten, sem lactose, sem corante”, diz, acrescentando que cada pacote dura quatro meses na prateleira. Ele vende 3.000 unidades por mês em feiras, no comércio local e nas cidades vizinhas e agora planeja dobrar a produção. Participa da Expointer pela terceira vez. “No ano passado e no retrasado, vendi tudo em dois dias.” Neste ano, ele triplicou o estoque para 4.000 pacotes, mas está preparado para reforçar, se for necessário.

O mineiro Eduardo Melo expõe seus queijos da marca Ivituruy, fabricados artesanalmente na agroindústria em Serro. Ele produz 25 peças por dia de queijo minas com variados tempos de maturação na cave subterrânea instalada na chácara da família. Há peças que maturam por até dois anos.

A atividade queijeira é passada na família de pai pra filho desde seu bisavô. “Aprendi a fazer queijos com 7 anos, mas infelizmente meus filhos não mostram interesse no negócio”, conta. Neste ano, um de seus queijos recebeu medalha de bronze em concurso na França.

Todo o leite vem das 36 vacas girolando da propriedade da família. Neste ano, Melo trouxe o triplo de peças das participações anteriores na feira. “Nos dois anos anteriores, os queijos acabaram dois dias antes do encerramento.

Edilson da Rocha Lima é o “estranho no ninho”. Vindo de Macapá (AP), ele vende na feira açaí e palmitos da agroindústria Bio Açaí, criada por uma cooperativa de alimentos da biodiversidade do Amapá que reúne 300 agricultores familiares. A indústria tem certificação internacional e capacidade de produzir 10 mil quilos de açaí por dia.

“Já cumprimos todas as nossas expectativas com essa viagem de mais de 3 mil km. Ao chegar, já vendi uma carreta com 30 mil quilos de açaí para um cliente gaúcho”, diz Lima, que trouxe mil quilos de açaí para sua primeira participação na Expointer e quase zerou o estoque no primeiro dia.

O produtor do Amapá conta que a cooperativa e a agroindústria tiraram da pobreza muitos produtores de açaí e outros frutos amazônicos na sua região. “De uma renda média de R$ 12 a 18 mil por ano, cada família passou a ganhar por volta de R$ 150 mil.”

Normas

Malusa Machado, veterinária da Divisão de Agroindústria Familiar da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado, diz que 3.400 produtores estão inscritos no órgão, mas apenas 1.400 estão legalizados, ou seja, atendem as normas ambientais, sanitárias e tributárias para vender seus produtos.

Os agricultores não pagam pelos estandes, bancados com recursos federais. A expectativa de negócios no pavilhão até o dia 1.o de setembro é superar os R$ 4 milhões do ano passado.
Source: Rural

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