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José Roberto Mendonça de Barros (Foto: Marcelo Min/Ed. Globo)

 

O agronegócio tem condições de manter o crescimento e sua importância na inserção do Brasil no mercado global. Mas tem desafios a enfrentar na política e na economia para continuar obtendo resultados positivos. Essa foi a avaliação feita, nesta quinta-feira (11/4), por especialistas reunidos no 8º Fórum e Exposição Abisolo, evento realizado pela entidade que representa empresas de nutrição vegetal, em Campinas (SP).

“O agronegócio vai seguir crescendo. Sou otimista em relação ao crescimento do setor. A pauta dos desafios não é muito diferente da do passado. “O agro pode falar em alto e bom som que é o único setor da economia que cresce com qualidade e produtividade”, afirmou o economista José Roberto Mendonça de Barros, diretor da MB Associados.

Ele destacou que, mesmo com o Brasil em crise, a agropecuária manteve o desempenho positivo. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 4,7% entre os anos de 2014 e 2018, o setor cresceu 10% no período. Resultado obtido, em grande parte, segundo ele, de uma aplicação sistemática de conhecimento científico em benefício da maior produtividade no campo.

Para Mendonça de Barros, continuar a ser produtivo é um dos principais desafios da agropecuária brasileira. Na visão dele, é preciso avançar na agricultura de precisão e na digitalização dos processos no campo. Atentar também para a sanidade, superando problemas como a Operação Carne Fraca, e em matéria de meio ambiente.

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O diretor da MB Associados destacou ainda a necessidade de melhorar a logística do país e defendeu que o subsídio ao crédito seja trocado pelo incentivo ao seguro rural no Brasil. Ponderou, no entanto, que as mudanças no incentivo não devem ser feitas em uma “penada”, para não “machucar” o setor que está indo bem quando os demais segmentos estão mal.

Elisio Contini (Foto: Divulgação)

Para o pesquisador Elisio Contini, da Embrapa, o agronegócio hoje é menos dependente do governo do que em anos atrás. Mas ele enxerga ser possível uma independência ainda maior. Há mais organização nas lideranças e entidades, que têm condições de influenciar e de colocar seus interesses no debate político.

“Vejo mais produtores com certa capitalização. O agro vai continuar crescendo mesmo com uma ação de governo que não seja tão positiva”, disse.

Contini, entretanto, alertou sobre possíveis efeitos da política externa nos resultados da agropecuária. Citando como exemplo o aumento da produção de soja, principal produto agrícola nacional, afirmou que o Brasil conseguiu atender bem a demanda interna, mas o “motor” do crescimento do setor nos últimos 20 ou 30 anos tem sido o comércio internacional.

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“Não podemos nos esquecer disso. Objetivamente, temos um bom quadro, com a ministra Tereza Cristina, que entende do assunto e isso é positivo. Mas não caiu bem o ideológico, que poderia ser um desastre para o agronegócio”, alertou o pesquisador da Embrapa.

Guilherme Casarões (Foto: Divulgação)

Pensamento semelhante tem o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Guilherme Casarões. Ele lembrou que a diplomacia brasileira sempre foi vista como pragmática, de boas relações com o mundo todo, e isso foi importante para o país se tornar um importante ator global no setor de alimentos.

“É fundamental manter princípios. Mas a gente vem observando turbulências. Quando a ministra tem que fazer um jantar com os árabes para remediar algo feito na relação com Israel, quando se cria rusga com a China por conta do alinhamento com os Estados Unidos, é prejudicial”, avaliou.

Para Casarões, o Brasil precisa unificar seu discurso. Há grupos dentro do governo mandando sinais divergentes e os outros países querem saber com “qual Brasil” estão se relacionando. Ele criticou o distanciamento do país em relação ao Mercosul em meio às negociações com a União Europeia. E destacou a necessidade de reforçar a promoção e a participação nas discussões comerciais.

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Em que pese as incertezas, afirmou que o Brasil é um dos países que melhor garantem ao mundo uma situação de segurança alimentar. No entanto, pontuou que além dos concorrentes mais tradicionais, há o desafio de enfrentar novos atores tentando ocupar seu espaço no mercado global.

“O mundo vem passando por riscos importantes, mas também há oportunidades que precisam ser aproveitadas. E não há dúvidas de que o Brasil é um grande player na geopolítica dos alimentos. Mas não pode reagir ao movimento global. Tem que proativamente garantir que, nos próximos anos possa controlar esse mercado e ter prioridade no acesso a determinados parceiros”, disse.

Carlos Melo (Foto: Divulgação)

O cientista político e professor do Insper, Carlos Melo, reforçou a necessidade do agronegócio melhorar a comunicação. Para ele, a visão da sociedade em relação à atividade agropecuária é baseada em “senso comum” e superar isso requer uma ação coordenada de valorização da imagem.

“O ambientalismo, quando radical, é prejudicial à imagem de vocês. Mas o antiambientalismo também. Quando não consegue esclarecer a sociedade, perde força porque a política não está só no Congresso Nacional”, disse Melo, que falou sobre o agronegócio diante do novo cenário político do Brasil.

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Na avaliação dele, há uma discrepância entre a representatividade econômica e a força política do agronegócio. A bancada ruralista é numerosa, mas fragmentada, o que é um risco. Ele avalia que o atual momento, em que o Brasil precisa de ajustes, é do agro negociar: aderir à pauta econômica, mas colocar na discussão os interesses setoriais.

“É preciso unidade, coordenação do setor no Congresso Nacional. Perdemos a clareza e a transparência nas negociações políticas. Tudo fica mascarado em clichês que não dizem nada, como velha política e nova política”, disse ele.

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Source: Rural

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