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(Foto: José Eduardo Camargo)

 

Elas estão por toda parte. Nas cidades, no campo, na praia. São comuns nos desenhos animados, na música popular, na literatura. As aves marcam não só pela presença, mas também pela diversidade. De um enorme gavião-real a um modesto canarinho, há pássaros de inúmeros tamanhos, formatos, cores e bicos. No mundo, são cerca de 10 mil espécies já descobertas. E o Brasil guarda um quinto desse total: quase 2 mil espécies foram catalogadas no país.

A maior parte das pessoas vive alheia a essa variedade. Mas isso não vale para os adeptos da observação de aves, ou birdwatching, uma atividade que une lazer, vivência junto à natureza e vontade de contribuir para a ciência. E o que para muitos é um hobby, para outros pode representar uma fonte de renda.

(Foto: José Eduardo Camargo)

 

O casal Patrícia e Marco Antonio Neumann, de Tapiraí (SP), transformou o sítio da família (em uma área de Mata Atlântica preservada, junto ao Parque Estadual Carlos Botelho) numa pequena pousada dedicada a receber os observadores de aves. “O sítio era só para lazer da família. Um dia, por acaso, recebemos por aqui um ornitólogo que chamou nossa atenção para o potencial da área. Começamos a pesquisar sobre o assunto e decidimos apostar no público de birdwatching”, conta Marco Antonio.

A aposta foi certeira. A mata do sítio, que ganhou o nome de Trilha dos Tucanos, guarda aves que são objeto de desejo para qualquer observador, como o tietinga, a maria-leque-do-sudeste e os araçaris. A propaganda boca a boca entre os observadores fez com que a área se tornasse um dos destinos preferidos no país para quem pratica a atividade.

O casal Fernão e Viviana com os filhos
(Foto: José Eduardo Camargo)

 

Patrícia e Marco Antônio (Foto: José Eduardo Camargo)

 

O sucesso da Trilha dos Tucanos também está baseado num aspecto muito particular dos observadores brasileiros: a paixão pela fotografia. Em países como a Inglaterra ou os Estados Unidos – onde, segundo dados da U.S. Fish & Wildlife Service, a observação de fauna movimenta US$ 80 bilhões na economia –, os observadores podem ser vistos munidos apenas de binóculos e cadernetas para anotar as espécies avistadas.

No Brasil, a câmera fotográfica com lente zoom também é um equipamento onipresente. Ela permite que os observadores possam postar as fotos das aves na internet e nas redes sociais. Atentos a esse detalhe, Marco Antonio e Patrícia criaram comedouros próximos à pousada que atraem diversas espécies, facilitando a vida de quem busca a foto perfeita. “No verão, a oferta de alimento na mata aumenta e os comedouros não são tão atrativos. Assim, nossa alta temporada fica entre o outono e a primavera”, explica Patrícia.

Araçari-banana. (Foto: José Eduardo Camargo)

 

Muito longe dali, em Alta Floresta (MT), outra família também aposta na observação de aves como opção de renda. Os pecuaristas Fernão Prado e Viviana Biondi combinam a criação de gado com o birdwatching, num mix curioso de receita para a Fazenda Anacã. As atividades, claro, não se misturam. A reserva legal da fazenda, à qual foram adicionadas áreas que aos poucos estão sendo recuperadas, é o destino de grupos de observadores interessados em conhecer espécies típicas da Amazônia.

Para os visitantes, o casal reformou e adaptou a antiga sede para funcionar como uma pousada. “Aproveitamos o potencial que a fazenda já tinha, com uma represa cercada de palmeiras junto à mata, e criamos novas trilhas, mapeando as espécies que podem ser encontradas em cada ponto. Além disso, levamos os grupos para outras propriedades da região com as quais temos parceria”, conta Fernão.

Uma saíra (Foto: José Eduardo Camargo)

 

Pensando no futuro, ele procurou a Escola Superior de Agricultura da USP (Esalq) em busca de um processo mais eficiente para a recomposição da floresta em parte da propriedade. “Adotamos um novo método, que usa sementes de espécies pioneiras em vez de mudas, com muito sucesso”, diz o proprietário. A Esalq também ajuda na recuperação de áreas de pasto. “Hoje temos mais cabeças de gado num espaço menor da fazenda, em áreas que no passado seriam abandonadas pelo desgaste do solo”, diz Fernão. “Nos dá orgulho demonstrar que não é preciso desmatar, basta recuperar os pastos com técnicas modernas.”

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Além de um hobby que permite a imersão na natureza, a observação de aves também traz benefícios para a ciência. É o que garante Luciano Lima, pesquisador do Observatório de Aves do Instituto Butantan, em São Paulo. “Toda vez que alguém faz uma lista das aves do seu sítio ou da sua fazenda, contribui para que cientistas possam estudar melhor as rotas migratórias ou para melhorar o mapa de distribuição das espécies”, diz. “Costumo dizer que observar aves muda o mundo. Pelo menos o mundo como nós o vemos.”
Source: Rural

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