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Curiosos percorrem pontos afetados para fazer fotos e acompanhar resgates. ( Foto: Lalo de Almeida ) (Foto: Lalo de Almeida / Ed.Globo)

 

“É um corpo”, afirma o oficial do Corpo de Bombeiros. E mais uma vítima do rompimento da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho, é encontrada pelo resgate, na região do Parque da Cachoeira, zona rural de Brumadinho (MG). Em outro ponto próximo, um helicóptero já içava restos mortais de outra vítima. Era perto de 12h de mais um dia de forte calor.

Além da correria e do trabalho intenso das equipes de resgate, chama a atenção a movimentação de curiosos nas áreas atingidas pela lama. Com celulares a postos, correm atrás de um registro da tragédia. Nos locais por onde passou, a reportagem da Globo Rural presenciou diversas situações.

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O que restou da ponte de via férrea destruída se tornou um “mirante” para fotografias. Sobre o telhado de uma casa destruída, uma pessoa fazia uma selfie. O voo baixo dos helicópteros à procura de vítimas rapidamente vira atração para fotos e vídeos. E, se há indícios de que outro corpo ou parte dele foi encontrado, o local vira ponto de concentração.

Brumadinho , MG. 28/01/2019. Tragédia em Brumadinho. ( Foto: Lalo de Almeida ) (Foto: Lalo de Almeida / Ed.Globo)

 

Em uma propriedade rural, era possível ver até crianças próximas do lamaçal. E, na ausência de lugar para sentar, a caixa que era usada para transporte de verduras virava banquinho. Nem a alface do dono foi poupada por alguns que ali paravam para observar a lama. Virou um souvenir da desgraça alheia.

Depois de quatro dias de buscas, o número de mortos na tragédia chegou a 65, e deve continuar subindo. O número de desaparecidos passou para 279. Um deles é o tio de Vanda Célia Sousa Araújo, que vivia com a mãe e o padrasto dela.

“Minha mãe e meu padrasto saíram. Meu tio, não. E minha mãe chora, achando que deixou o irmão para trás”, lamenta Vanda Célia Souza Araújo. Moradora de Ibirité, ela conta que estava em Brumadinho até dois dias antes da tragédia, ocorrida na sexta-feira (25/1). A casa foi destruída pela lama.

Crianças brincam próximas à lama. ( Foto: Lalo de Almeida ) (Foto: Lalo de Almeida/Ed.Globo)

 

Gostava do lugar. Diz que ia para lá quando queria paz. Agora vai fácil às lágrimas ao olhar o cenário de destruição e pensar no tio desaparecido, enquanto acompanha uma operação de resgate em um matagal próximo de onde ficava a casa de sua mãe. As equipes entram, vasculham, mas acham apenas restos mortais de animais. “Eu acho que para Deus nada é impossível”, diz Vanda Célia, chorando e mantendo a esperança.

“Quer um abraço?”, oferece uma moça vestida com traje semelhante ao militar que acompanha a operação. Vanda aceita. “É uma vida, né?”, diz a garota. Milene Barcoti participa de um grupo de voluntários de São Paulo que, segundo ela, tem até treinamentos em selva. Mais um dos diversos grupos espalhados por Brumadinho, ajudando no resgate de pessoas e de animais, que também sofrem com a tragédia.

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Por telefone, a mãe de Vanda Célia, que está em um hotel, atende a reportagem de Globo Rural. Vera Lúcia Souza Araújo Vilaça conta que foi avisada do estouro da barragem por um vizinho. Saiu só com a roupa do corpo, correndo pela rua, e ainda teve tempo de ajudar outra pessoa. O marido saiu pelo matagal e também se salvou. O irmão, não.

“Ele deve ter voltado para buscar alguma coisa”, diz, lembrando do lugar onde vivia. “Eu tinha horta, plantava milho. Tinha galinha, cachorro.” Agora, ela espera pelo resgate do irmão.

Poucos tratores resistiram à onda de rejeitos da barragem. ( Foto: Lalo de Almeida ) (Foto: Lalo de Almeida / Ed.Globo)

 

Reinaldo da Rocha, conhecido como Rei, é mais um agricultor que ficou sem a fonte de renda por causa do desastre. Ele conta que estava embaixo de um caminhão, fazendo a manutenção do veículo, quando viu a lama descendo. Só teve o tempo de correr para não ser arrastado junto com o veículo. “Desde o dia que aconteceu, não fui mais lá”, diz.

A lama atingiu 70% da propriedade com 13 hectares de produção de verduras. Assim como em outras propriedades, o que ficou intacto não poderá ser irrigado. Perdeu trator, implementos, caminhão e um estoque de insumos para a produção que ele estima em R$ 30 mil.

“Tenho que fazer um levantamento”, diz, ao falar de prejuízos. “Mas é enorme. Meu prejuízo e do proprietário, que está nos Estados Unidos. Ainda tenho que entrar em contato com ele.” Da terra onde produz, Rei é arrendatário.
Source: Rural

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