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Atenção: este artigo contém ironia e não expressa, necessariamente, a opinião da Globo Rural! (Foto: Pexels)

 

Criadores de animais de grande porte, muito especialmente de gado de corte ou de leite, têm o desafio constante de combinar a arte de criar com a capacidade de vidência no médio e no longo prazo. Esses produtores de animais, e sobretudo das espécies de crescimento lento e de longo intervalo entre gerações, têm mais dificuldade em perceber perdas de produtividade ao longo do tempo, porque elas se diluem e se confundem com as alternâncias das condições ambientais naturais (anos piores, anos melhores) e das oscilações do mercado.

Luiz Josahkian (Foto: Divulgação/ABCZ)

Invertendo o discurso num arremedo de psicologia reversa, vejam a seguir cinco passos infalíveis para implodir um sistema de produção e ajudar o produtor a esquecer de uma vez por todas que, gerenciando bem, as coisas poderiam ser diferentes. Então, preparados? Vamos começar nosso roteiro de insucesso garantido e, o pior, de garantia de uma morte lenta e agonizante.

1 Não se importe com as características de sua propriedade. Solo, planta, clima, manejo, pluviosidade são detalhes que, com recursos – grandes, é claro –, você pode modificar. Sendo assim, sinta-se livre para escolher sua raça predileta, aquela que tem a pelagem e formas favoritas. Adaptação e sintonia com o produto final são detalhes sem importância;

2 Mercado? Esqueça. Cedo ou tarde, eles vão gostar do que você produz. Tendências? Invencionices de algum chato de plantão. Produza livremente o que seu coração pedir e seu bolso permitir, pelo menos enquanto der;

3 Não meça nada em sua propriedade. Taxa de lotação, capacidade de suporte, eficiência reprodutiva, produção de leite, ganho em peso e outros indicadores criam muita confusão e dão uma trabalheira enorme que, no final, não serve para nada. Afinal, a natureza se alterna em bonanças e tempestades, por mais que você possa prevenir alguma situação. Usar aquela qualidade inquestionável de saber pesar o boi no olho será suficiente;

4 Na hora de selecionar seus animais, seja extremista. Adote somente seu instinto infalível herdado de seus ancestrais ou somente tabelas cheias de números frios. Considere que o instinto de selecionador resolve tudo sozinho; ou esqueça-o completamente e o substitua, sem problemas, pelos números objetivos. Não combine essas habilidades de forma alguma, por mais tentador que isso possa ser. Assim você garante seu lugar no panteão dos tradicionalistas ou no dos high-tech, dependendo de que lado escolher;

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5 Este é um passo muito importante para que você não se sinta um criador do período jurássico. Esteja sempre na liderança tecnológica para alimentar o bate-papo nas rodas de amigos. Adote toda e qualquer tecnologia da hora sem se importar com o custo-benefício ou sua aplicabilidade no seu sistema de produção.

Pronto! Agora é apenas uma questão de tempo para seu negócio implodir.

E nem é preciso se afobar, porque, se seguiu direitinho todos os passos, o processo será rápido. Ah, mas tem uma coisa, tão desimportante quanto seu próprio negócio nessas alturas do campeonato: lamentavelmente, você não irá poder apreciar as etapas da destruição, pois elas são dissimuladas e quase silenciosas, confundidas naquelas alternâncias naturais de bonanças e tempestades. Quando se der conta, ela já terá terminado e terá sido indolor. Lamentavelmente, o pior, na verdade, está para começar.

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*Luiz Josahkian é zootecnista, especialista em produção de ruminantes e professor de melhoramento genético, além de superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Este artigo foi publicado originalmente em fevereiro de 2018, na edição nº 388 da Revista Globo Rural.
Source: Rural

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