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Alexandre Parola e Edwini Kessie representando a OMC no Congresso da Abag (Foto: Rodrigo Trevisan/Ed. Globo)

“Em briga de elefante, quem se dá mal é a grama.” Com essa expressão, o sócio da consultoria McKinsey, Nelson Ferreira, abriu o painel sobre os limites e oportunidades do comércio exterior, que também reuniu representantes da OMC, Cargill e da Bayer, durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, na última segunda-feira (6/8) em São Paulo.

Um dos assuntos mais discutidos foi a guerra comercial entre Estados Unidos e China. “Receio que, no futuro, o Brasil seja a grama nesse embate”, disse Ferreira. A preocupação está relacionada à tendência de alguns países e blocos econômicos se tornarem mais protecionistas¸ a exemplo do que vem acontecendo com os Estados Unidos.

Diante dos desafios, o diretor de agricultura e commodities da Organização Mundial do Comércio (OMC), Edwini Kessie, defendeu o sistema de regras vigentes no comércio exterior. “Os países sabem que temos problemas e que precisamos desenvolver esse sistema, mas também sabem que acabar com ele não é o caminho”, disse.

O representante permanente do Brasil na OMC, Alexandre Parola, reforçou a opinião de Kessie. “A OMC hoje está sob ataque. Mas ela não é inviável, longe disso. Precisamos fazer uma coalizão de defesa do multilateralismo. O número de atores interessados no multilateralismo é muito maior do que os que acham que vão se beneficiar da falta dele”, disse Parola. “Costumo dizer que a lei da selva só convém ao leão, e não somos o leão desta selva. Um mundo de regras convém ao Brasil”, acrescentou.

Riscos

Na visão de Nelson Ferreira, da McKinsey, a curto prazo a guerra comercial pode favorecer o Brasil. “A China pode comprar mais soja do Brasil e da Argentina. Mas a longo prazo, acho que corremos sérios riscos”.

Um desses riscos, segundo ele, é a possibilidade de o país asiático aumentar a produção doméstica de soja. “Hoje, a China produz 15% do total que utiliza do grão. A terra não é o maior limitante para os chineses aumentarem essa produção, mas a água. Eles não têm água potável como o Brasil, mas estão investindo muito em eletricidade e em tecnologia de dessalinização”, explicou, ao mesmo tempo em que reconhecia que produzir seria mais caro que importar. “Mas nesse cenário de guerra comercial, a China talvez queira isso. É um risco para o Brasil”.

O diretor da Cargill, Paulo Sousa, discordou. Ele não acredita que a China pretenda aumentar sua produção de soja. “O número está estável há duas décadas e eles têm outras culturas para investir. Mas no geral eu queria ser mais otimista. Acredito que a curto prazo a China traz muito mais incerteza e preocupação do que oportunidades para o Brasil”.

É difícil, pelo menos por enquanto, dizer se a China representa mais uma preocupação do que oportunidade, disse o diretor de marketing da Bayer, Mauro Alberton. Para ele, é importante estar atento, já que o agronegócio brasileiro depende dos chineses. No entanto, um aumento da produção interna do país asiático não deve acontecer no curto prazo. Um exemplo é o próprio Brasil.  “Demoramos décadas, mas conseguimos crescer e consolidar nossa agricultura. Só uma decisão governamental não faz tudo que o Brasil fez”, disse.

Confira a cobertura da Revista Globo Rural no Congresso do Agronegócio Brasileiro:

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Source: Rural

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